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(9) Aristóteles

por Carlos Mag. Costa, em 19.08.15

Fonte: Transcrição de partes do livro: “O Mundo de Sofia”

  

Aristóteles não era um ateniense. Era natural da Macedónia, mas foi para a Academia quando Platão tinha 61 anos.

 

Aristóteles não foi apenas o último grande filósofo grego, mas foi também o primeiro grande biólogo da Europa.

 

Platão estava concentrado nas formas ou «ideias» eternas que mal reparava nas transformações da natureza. Aristóteles, pelo contrário, interessava-se precisamente pelas transformações, por aquilo a que chamamos transformações físicas.

 

Platão afastava-se do mundo sensível e só distinguia passageiramente aquilo que vemos à nossa volta. (Ele queria sair da caverna! Queria olhar para o mundo eterno das ideias!). Aristóteles fazia exatamente o inverso: dirigia-se à natureza e estudava peixes e rãs, anémonas e papoilas.

 

Podemos dizer que Platão usou a penas o seu entendimento; Aristóteles, por seu lado, usou também os sentidos.

 

A importância de Aristóteles para a cultura europeia não reside apenas do fato de ele ter criado a linguagem técnica que ainda hoje as diversas ciências utilizam. Ele foi o grande sistemático que fundou e ordenou as diversas ciências.

 

Não há ideias inatas

 

Tal como os filósofos anteriores, também Platão quis encontrar algo eterno e imutável no meio de todas as transformações. Deste modo, encontrou as ideias perfeitas, que são superiores ao mundo sensível. Além disso, para Platão, estas ideias eram mais reais do que todos os fenómenos na natureza. Primeiro, vinha a ideia «cavalo» em seguida, todos os cavalos do mundo sensível, que galopavam como cópias na parede de uma caverna. Logo, a ideia «galinha» vem antes da galinha e do ovo.

 

Aristóteles achava que Platão tinha posto tudo às avessas. Estava de acordo com Platão em que o cavalo particular «flui», e que nenhum cavalo vive eternamente. Também estava de acordo em que a forma de cavalo é em si eterna e imutável. Mas, para Aristóteles, a «ideia» cavalo é apenas um conceito que nós homens formámos, depois de termos visto um determinado número de cavalos. Para Aristóteles, a «forma» cavalo consiste nas caraterísticas do cavalo – diríamos hoje na espécie cavalo. Para Aristóteles, as «formas» residem nas próprias coisas como qualidades específicas das coisas.

 

Aristóteles também não concorda com Platão em que a ideia «galinha» precede a galinha. Aquilo a que Aristóteles chama de «forma» galinha, reside na forma das qualidades específicas de cada galinha, por exemplo, pôr ovos. Assim, a galinha em si e a «forma» galinha são tão inseparáveis como a alma e o corpo.

 

Aristóteles discorda da teoria das ideias de Platão.

 

Para Platão, o grau máximo de realidade é o que pensamos com a razão. Para Aristóteles, é igualmente evidente que o grau máximo de realidade é o que percecionamos ou sentimos com os sentidos. Segundo Platão, aquilo que vemos à nossa volta na natureza é apenas reflexo de algo que existe no mundo das ideias, e consequentemente na alma do homem. Aristóteles dizia exatamente o contrário: aquilo que está na alma do homem é apenas o reflexo dos objetos da natureza. Para Aristóteles, o mundo real é a natureza.

 

Aristóteles aponta para o facto de que nada existe na consciência que não tenha existido primeiro nos sentidos. Platão poderia ter dito que não há nada na natureza que não tenha existido primeiro no mundo das ideias. Segundo Aristóteles, Platão duplicou o número de coisas.

 

Aristóteles defendia que tudo o que temos em pensamento e em ideias chegou à nossa consciência através daquilo que vimos e ouvimos e que também temos uma razão inata, que temos uma faculdade inata de ordenar todas as impressões sensíveis em diferentes grupos e classes. Assim, nascem conceitos como «pedra», «animal» e «homem».

 

Aristóteles não negava que o homem tivesse uma razão inata. Muito pelo contrário. Para Aristóteles, a razão é precisamente a caraterística mais importante do homem que está completamente «vazia» enquanto não sentimos nada. Para Aristóteles, o homem não possui «ideias» inatas.

 

As formas são as qualidade das coisas

 

Para Aristóteles, a realidade é constituída por diversas coisas particulares que apresentam uma unidade de forma e matéria. A «matéria» é aquilo a partir do qual a coisa é feita, enquanto a «forma» carateriza as qualidades particulares das coisas.

 

Para Aristóteles, na matéria há sempre uma possibilidade de se atingir uma determinada forma. Defende que a matéria se esforça por realizar uma possibilidade em si inerente e que cada mudança na natureza é uma transformação da matéria da possibilidade para a realidade.

 

Aristóteles achava que em todas as coisas da natureza está inerente uma possibilidade de realizar uma forma determinada.

 

A causa final

 

Aristóteles acreditava que em toda a natureza há uma finalidade – teoria das causas que, por exemplo, chove para que as plantas cresçam e as laranjas e as uvas crescem para que os homens as comam.

 

Hoje, a ciência já não pensa assim. Dizemos que a alimentação e a humidade são condições para que os homens e os animais possam viver. Não é a intensão das laranjas ou da água alimentarem-nos.

 

Lógica

 

A distinção entre «forma» e «matéria» tem um papel importante na descrição que Aristóteles faz do modo como o homem conhece os objetos na natureza.

 

Aristóteles procurou provar que todas as coias na natureza pertencem a diversos grupos ou subgrupos.

 

“Hermes é um ser vivo, mais exatamente, um animal, mais exatamente, um vertebrado, mais exatamente, um mamífero, mais exatamente, um cão, mais exatamente, um labrador, mais exatamente, um labrador macho”.

 

Aristóteles foi um homem meticuloso e metódico que queria pôr em ordem os conceitos dos homens. Por isso, foi ele quem fundou a lógica como ciência. Estabeleceu várias regras precisas para determinar que conclusões ou que demonstrações são válidas logicamente. Um exemplo deve ser suficiente. Se afirmar primeiro que «todos os seres vivos são mortais» (1.ª premissa), e afirmar em seguida que «Hermes é um ser vivo» (2.ª premissa), pode-se deduzir a conclusão: «Hermes é mortal».

 

A escala da natureza

 

Quando Aristóteles quer «pôr ordem» na existência, ele aponta primeiro para o facto de que tudo o que há na natureza pode ser dividido em dois grupos principais:

(1) as coisas inanimadas, como pedras, gotas de água e torrões de terra. Nelas não está inerente nenhuma potencialidade de mudança. Só se podem alterar por ação do exterior.

(2) as coisas animadas, nas quais é inerente a possibilidade de se alterarem.

 

Relativamente à coisas animadas, Aristóteles salienta que devem ser divididas em dois grupos:

(1) o reino vegetal, ou das plantas, e

(2) o reino de todos os outros seres vivos, que pode ser subdividido em dois subgrupos: o dos animais e o dos homens.

 

Quando Aristóteles classifica os fenómenos da natureza em diferentes grupos, parte das qualidades das coisas, ou, mais exatamente, do que elas podem fazer ou do que elas fazem.

 

Todos os seres vivos (plantas, animais e homens) têm a faculdade de assimilar a alimentação, de crescer e de se multiplicar. Os homens e os animais têm ainda a capacidade de sentir e de se mover na natureza. Todos os homens têm ainda a faculdade de pensar, ou, justamente, de ordenar as suas impressões sensíveis em diferentes grupos e classes.

 

Deste modo, não há na natureza limites verdadeiramente definidos. Vemos uma passagem gradual de plantas mais simples para plantas mais complexas, de animai simples para animais complexos. No cimo desta escala está o homem que, segundo Aristóteles, reúne toda a vida na natureza. O homem cresce e alimenta-se, tal como as plantas, tem sensações e a capacidade de se mover, tal como os animais, mas além disso tem uma característica muito particular, que só o homem possui: a capacidade de pensar racionalmente.

 

Aristóteles acreditava que os movimentos das estrelas e dos planetas regiam os movimentos aqui na terra, mas que havia algo que movia os corpos celestes. A esse algo Aristóteles chamou de o primeiro motor ou Deus.

 

Aristóteles defendia a existência de um Deus que deu origem a todos os movimentos da natureza, Deus esse que representa o vértice absoluto na escala da natureza.

 

Ética

 

Aristóteles foi o primeiro filósofo a distinguir a ética da política, centrada a primeira na ação voluntária e moral do indivíduo enquanto tal, e a segunda, nas vinculações deste com a comunidade.

 

Segundo Aristóteles, a «forma» do homem é possuir uma «alma vegetativa», uma «alma sensitiva» e uma «alma racional».

 

Às perguntas: Como é que o homem deve viver? De que é que o homem precisa para viver bem? Aristóteles defende que o homem só é feliz quando pode desenvolver e usar todas as suas faculdades e capacidades.

 

Aristóteles acreditava em três formas de se conseguir uma vida feliz:

(1) como ser com desejos e a necessidade de prazer;

(2) como cidadão livre e responsável;

(3) como pesquisador e filósofo.

 

Aristóteles sublinha que estas três formas completam-se para que o homem possa ter uma vida feliz. Ele recusa portanto qualquer tipo de parcialidade.

 

No que diz respeito à relação com o próximo, Aristóteles, também aconselha um «meio termo». Defende que não devemos ser cobardes nem temerários, mas corajosos (pouca coragem significa cobardia, demasiada coragem significa temeridade).

 

O mesmo é defendido para a alimentação. Comer pouco é perigoso, mas comer muito também é perigoso.

 

A ética de Platão e de Aristóteles faz recordar a ciência médica grega: só através da harmonia e da moderação me torno um homem feliz ou harmonioso.

 

Política

 

A ideia de que o homem não deve levar nada ao extremo, na vida, está também presente na visão aristotélica da sociedade.

 

Aristóteles afirmava que o homem é um «ser social». Na sua opinião, sem a sociedade à nossa volta não somos verdadeiros homens. A família e a cidade satisfazem as necessidades vitais mais básicas como a alimentação e o calor, o casamento e a educação dos filhos. Todavia, a forma mais elevada de comunidade humana só pode ser, para Aristóteles, o Estado.

 

Para Aristóteles, o homem é um animal político, inclinado a fazer parte de uma pólis, a “cidade” enquanto sociedade política. A cidade precede assim a família, e até o indivíduo, porque responde a um impulso natural. Dos círculos em que o homem se move, a família, a tribo, a pólis, só esta última constitui uma sociedade perfeita. Daí serem políticas, de certo modo, todas as relações humanas. A pólis é o fim e a causa final da associação humana.

 

Perante a questão: Como é que o Estado deveria ser organizado? Aristóteles menciona várias formas de governo:

(1) a monarquia – há um chefe supremo que não transformar-se numa «tirania» governo do Estado por um único soberano em seu próprio proveito.

(2) a aristocracia – governo de um grupo restrito de indivíduos, forma esta que se deve precaver para não degenerar numa oligarquia – regime no qual apenas são salvaguardados os interesses de poucas pessoas.

(3) a democracia, que pode facilmente degenerar numa «oclocracia» - governo da multidão.

 

A conceção da mulher

 

Aristóteles pensava que algo faltava à mulher. Afirmava que a mulher é um «homem incompleto», que na reprodução a mulher é passiva e recetora, enquanto que o homem é ativo e dador. Por isso, segundo Aristóteles, a criança herdava apenas as características do homem, as características da criança estavam contidas no sémen do homem.

 

Para Aristóteles, a mulher é como o terreno que recebe e conserva a semente, enquanto que o homem é o próprio «semeador». Ou dito de outra forma verdadeiramente aristotélica, o homem dá a «forma», a mulher dá a «matéria».

 

A conceção Aristotélica da mulher é particularmente grave porque se tornou predominante durante a Idade Média, e não a de Platão.

 

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publicado às 13:37



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